MEU PERCURSO

Poderia começar apresentando um currículo, ou dizendo de como me encontrei com a psicanálise.

Em outros tempos seria assim, hoje não mais.  

Sigo decidida de que sou muito mais que o trabalho que faço, então acho que vale a tentativa de me dizer por outros contornos. 

GLEISCIANE OLIVEIRA

Sonhadora! Os sonhos me contornam, me dão forma e definiram muitas coisas que alcancei até hoje. Sonhos de uma cabeça viajada demais. Demais de intensidade, demais quando planeja, demais quando decide. 

Perguntadora! Sempre tenho perguntas a fazer, sobre minha existência, sobre a humanidade e seus processos, sobre o subjetivo e único de cada um. Perguntas funcionam como música para meu corpo me causam movimento.

Logo, parar é um trem difícil. Com licença, apresento outra coisa que sou com toda certeza: mineira. Mineira raiz, pé na terra, banho de rio e biscoito frito com café. Mineira portadora de um mineirês infalível, pela via de que tento dizer quase tudo. 

Viajante! Sim, sou uma eterna viajante. Conheci alguns países, e em sua maior parte, a América do Sul, a borda que ela faz em torno do Brasil me encanta. Mas a maior viagem que vivo constantemente está dentro das coisas que desejo e me pergunto como fazer.  

Procurei um analista porque precisava fazer borda. Borda em algo descompensado que habitava-me e era desconexo com o que penso sobre intensidade. Estava tudo bagunçado e não conseguia mais arrumar sozinha.

A PSICANÁLISE

A psicanálise surge como possibilidade de caminho quando aquele que trilhava parecia não servir mais. Foram anos tentando encontrar o trem que acelerava meu coração e onde eu podia colocar todo meu jeito intenso de pensar e fazer. 

Sou uma fazedora. Quando decido não há santo que me pare. Trabalho em torno de decisões. Mas nem sempre foi assim, já visitei o abismo, caí sem saber onde chegaria, me ralei toda, foi difícil levantar. Vez ou outra visito esse espaço cinzento, não estou ilesa a isso. Mas o reconheço quando chega, já me perguntei sobre ele muitas vezes e por isso o olho de frente e decido ficar nada mais do que o necessário. 

Mas nunca considerei que houvesse outro caminho a não ser fazer dar certo. Demorei meu tempo para fazer as coisas se encontrarem num ponto: a psicanálise, meu desejo, minha decisão e a intensidade da minha entrega.

Fiz muitas coisas e me desencontrei de tantas partes de mim nesse caminho. Mas foi assim que também encontrei outros pedaços espalhados por onde nunca imaginei. 

Telemarketing, assistente administrativo, recepcionista, diarista, faxineira, assistente de RH, bolsista, pesquisadora, psicóloga social, psicóloga clínica, psicanalista. Me parece um bom desenho até aqui. Pode ser que em outro tempo venha algo novo. Já pensei em fotografar, mas ainda fico com a psicanálise.

E O TRABALHO CLÍNICO?

Não planejei fazer isso on-line, por isso a frustração e a negação por esse modelo foi muito grande no começo. 

Mas me perguntei: porque preciso ficar presa a ideia de que só há uma forma de fazer? 

Essa pergunta me levou a diversos lugares. Inclusive aqueles que envolvem a forma como a psicanálise chega até mim. Elitista, branca, rígida e sem espaço para a diferença. Me prendi a isso e minha clínica desapareceu por alguns meses. 

Mas sou incansável em perguntar. Foram meses tentando responder. Troquei o pneu do carro em movimento. Fui tecendo um jeito meu de fazer, que está diretamente ligado ao espaço que construí na rede social. 

A clínica é movimento, eu sou movimento, é uma construção que não canso de rever, repensar, refazer. 

A clínica é um espaço que posso, hoje posso, colocar um tanto do que sou. Fazer uso disso em nome de um fazer que é único. Único assim como todos que chegam e desejam ser escutados. 

A clínica é uma construção e só é possível por haver uma decisão.

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